É verdade que os sintomas da gripe deixam o paciente sentir-se pior do que os da constipação, mas, porque nem todas as crianças reagem da mesma maneira, nem sempre é fácil distinguir. Na dúvida, o melhor é que a criança seja vista pelo médico, principalmente se existem condições crónicas prévias. Algumas doenças bacterianas, como infeções da garganta ou pneumonia, também podem parecer-se com uma gripe ou constipação.

A primeira coisa a fazer é avaliar os sintomas. A doença instalou-se subitamente ou foi progredindo devagar? A criança tem febre alta ou não tem febre ou tem febre baixa? Sente-se muito cansada, ou apenas um pouco? Dói-lhe a cabeça, ou não? Tem dores musculares, ou nem por isso? O seu apetite diminuiu, ou come normalmente? Sente arrepios no corpo, ou não? Se as respostas forem positivas para a primeira parte destas perguntas, é provável que o seu filho esteja com gripe. Se o “sim” for para a segunda parte das perguntas, trata-se presumivelmente, de uma constipação.

Aferido os sintomas, convém estar atento à sua progressão, pois a resposta às perguntas anteriores pode mudar à medida que a doença avança. Se a criança piorar, há que a levar ao médico.

É Gripe ou Constipação?

Constipação comum

Não é à toa que se lhe chama “comum”, uma vez que todos a temos de tempos a tempos, várias vezes por ano. Trata-se de uma infeção das vias respiratórias superiores, provocadas por um vírus, e costuma ser ligeira. “A maioria das constipações é causada por rinovírus que se encontram em gotículas invisíveis no ar que respiramos ou nas coisas em que tocamos”, explica a pediatra Lia Ana Silva. É, por isso, bastante contagiosa. Há mais de 100 rinovírus diferentes que se podem infiltrar no nariz e na garganta, provocando uma reação do sistema imunológico que causa os sintomas de constipação. Por isso, normalmente as crianças começam por sentir comichões na garganta, nariz ranhoso ou entupido e espirros. Eventualmente podem também ter tosse seca, febre baixa, dor de cabeça, mas tudo em doses ligeiras. Os ambientes secos podem reduzir a resistência aos vírus causadores das constipações, bem como ambientes poluídos pelo fumo do tabaco, mas a pediatria assegura que, apesar do que ouvíamos das nossas mães ou avós, “não vestir um casaco quando está frio lá fora ou sair para a rua com o cabelo molhado não provocam constipações”.

As constipações são altamente contagiosas, dada a forma simples como o vírus se propaga, através do contacto com as secreções respiratórias da pessoa infetada: basta que a criança constipada tussa, espirre ou fale muito próxima de outra para que a contaminação aconteça. Outra forma de transmissão é o contato direto com essas gotículas (através das mãos que tocam em superfícies infetadas e depois são levadas à boca ou ao nariz, por exemplo). “São contagiosas desde dois a três dias antes dos sintomas aparecerem, mas podem continuar a sê-lo até cerca de uma semana depois”, refere Lia Ana Silva. Os sintomas aparecem normalmente dois a três dias depois da exposição ao vírus, e a maioria dura cerca de uma semana, embora algumas possam chegar às duas semanas.

É Gripe ou Constipação?

Gripe

A gripe é uma infeção aguda viral, altamente contagiosa. Os vírus que a provocam são diferentes dos da constipação – ainda que as formas de contágio sejam idênticas –, pelo que os sintomas são, geralmente, mais severos. Começam cerca de dois dias após o contágio e podem incluir febre alta, arrepios no corpo, dor de cabeça, dores musculares, tonturas, perda de apetite, cansaço extremo, tosse, garganta dorida, nariz ranhoso, náuseas ou vómitos, fraqueza, dores de ouvidos e diarreia. Ou seja, “as complicações associadas vão além das vias superiores”, diz a pediatra.

Normalmente espalha-se em pequenos focos, mas de vez em quando dão-se epidemias de gripe – quando a doença se espalha rapidamente e afeta muita gente em determinada área, ao mesmo tempo. Quando uma epidemia se espalha pelo mundo inteiro, tem o nome de pandemia. A última pandemia de gripe aconteceu em 2010, com o vírus H1N1 (gripe A).

Após cinco dias, a febre e os outros sintomas costumam desaparecer, mas a tosse e a fraqueza continuam. Dentro de uma a duas semanas, os sintomas já devem ter desaparecido todos. No entanto, se a criança sofre de alguma doença crónica (asma, cardiopatias congénitas, diabetes…) ou se tem menos de seis meses, é importante ir ao médico e tratar a gripe com a seriedade que ela merece, para evitar complicações graves como a pneumonia, por exemplo. De resto, em crianças saudáveis, o seu sistema imunitário tem capacidade para lidar com a gripe e vencê-las. É por isso que a Direção Geral de Saúde (DGS) apenas recomenda a vacina da gripe a grupos de risco, que, no caso das crianças, incluem as que sofrem de doenças crónicas. Ao contrário das constipações, que são causadas por tantos vírus diferentes, na gripe os vírus são de dois tipos (A e B), pelo que é possível desenvolver uma vacina preventiva. Todos os anos os especialistas criam uma vacina que imuniza contra os vírus que acreditam serão mais comuns na próxima altura das gripes. Os grupos de risco devem ser vacinados entre outubro e dezembro, idealmente, mas, dado que a época das gripes se estende de dezembro a março, é útil fazê-lo em qualquer altura deste período. A pediatra Lia Ana Silva explica o procedimento: “As crianças são vacinadas por via injetável, a partir dos seis meses. Entre os seis meses e os três anos, recebem metade da dose. A partir dos seis anos levam a dose inteira, tal como os adultos. No primeiro ano em que recebe a vacina, uma criança até aos oito anos deve ser vacinada duas vezes, com intervalo de quatro semanas; a partir desse primeiro ano, independentemente da idade, a vacina faz-se numa única toma. As orientações da DGS recomendam que não se vacinem crianças com “alergia grave à proteína do ovo e crianças que tenham tido reações adversas à vacina anteriormente”.

É Gripe ou Constipação?

Só o tempo cura

Não há medicamentos para curar a constipação ou a gripe, mas podemos socorrer-nos do paracetamol ou do ibuprofeno para aliviar os sintomas como a febre e as dores de cabeça ou de corpo. Embora a tentação de dar ao nosso filho descongestionantes e anti-histamínicos para aliviar alguns sintomas seja grande, a verdade é que há poucas ou nenhumas provas de que funcionem nestes casos pelo que o melhor é abstermo-nos, pelo menos sem conselho médico. Podemos pôr-lhes gotas de solução salina, para aliviar a congestão nasal, usar um humidificador para tornar o ar menos seco, dar-lhes um banho quente para aliviar as eventuais dores de corpo e utilizar o vapor do duche para os ajudar a respirar melhor. Também lhes podemos dar a tradicional canja – não há qualquer evidência de que cure constipações, como as nossas avós diziam, mas mal não faz! De qualquer forma, o ideal é que coma quando tiver fome e que beba muitos líquidos (água, chá, sumos…) para ajudar a repor os líquidos perdidos com a febre ou a produção de muco.

As crianças devem abster-se de ir à escola quando estão constipadas ou com gripe. No primeiro caso não pioram se saírem, mas vão estar a espalhar o vírus. No caso da gripe, além do contágio, como os sintomas são mais severos, a criança precisa mesmo de ficar em casa a descansar. Os pais devem avaliar se a criança consegue manter-se hidratada (um bom indicador é se continua a fazer xixi normalmente) e se a febre, mesmo sendo alta, reage à medicação. Se assim for, tudo corre normalmente. No entanto, se após dois os três dias os sintomas piorem em vez de melhorarem, é preferível levar a criança ao pediatra. Ele pode avaliar melhor a garganta e os ouvidos, verificar se entretanto se evoluiu para alguma infeção bacteriana e, em caso positivo, receitar um antibiótico. E é só nestes casos que o antibiótico se justifica: “As gripes são provocadas por vírus, e os antibióticos combatem bactérias, pelo que, numa fase inicial do quatro gripal, não faz qualquer sentido tomar antibióticos”, explica a pediatra. Portanto, se tudo se mantiver dentro da normalidade, há que dar tempo ao tempo e esquecer os hospitais. Quer se trate de uma constipação comum ou de uma gripe, deixar a criança descansar e dar-lhe muitos líquidos e muitos mimos costuma ser o suficiente.

É Gripe ou Constipação?

Prevenir é o melhor remédio

Não há forma de garantir a 100 por cento que a criança não se vai constipar ou apanhar uma gripe, mesmo neste último caso, estando vacinada. Mas podemos incutir-lhe alguns procedimentos que ajudem na prevenção e que reduzam o risco de contágio:

- Lavar as mãos frequentemente, especialmente depois de tossir, espirrar e assoar-se, e sempre antes de comer ou de preparar comida.

- Nunca se assoar ao lenço de outra pessoa.

- Não partilhar copos e utensílios de refeição.

- Cobrir a boca e o nariz com um lenço de papel quando se tosse ou se espirra, e depois deitá-lo fora. Se não tivermos um lenço à mão, tossir ou espirrar para o braço, na zona do cotovelo, e nunca para as mãos.

É Gripe ou Constipação?

Conhecer os sintomas

Sintomas

Constipação

Gripe

Febre
Não, ou baixa Sim, alta
Dor de cabeça
Pouco frequente Sim, forte
Dores no corpo
Poucos frequentes Frequentes, por vezes fortes
Cansaço
Ligeiro Pode durar 2 a 3 semanas
Exaustão
Nunca Intensa, no início
Nariz entupido
Sim Às vezes
Espirros
Sim As vezes
Garganta irritada
Sim Às vezes
Tosse
Ligeira, seca Sim, com expetoração
Fonte:

Rosa Cordeiro

Pais & Filhos, número 300, janeiro 2016



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