Ter um bebé é um processo natural, na maioria das vezes: depois de uma gravidez de termo, o parto decorre sem grandes sobressaltos e nasce um bebé saudável. Dois dias depois, mãe e filho têm alta hospitalar e seguem, num namoro inigualável, para casa, para a família, para um novo dia-a-dia. Porém, nem sempre é assim. Nem todas as gravidezes decorrem tranquilamente e algumas requerem vigilância médica apertada ao longo das 40 semanas. São vários os fatores que levam a que uma gravidez seja considerada de risco ou, nos casos mais críticos, de alto risco. Mas todos implicam a possibilidade, em maior ou menor grau, de complicações para a mãe ou para o bebé. Ou para ambos.

O rótulo de gravidez de risco pode ser assustador, mas há que perceber que não significa que mãe ou bebé vão, efetivamente, ter problemas. Significa que é uma gravidez que requer um acompanhamento especial e uma monitorização mais rigorosa para debelar (ou minimizar) qualquer situação que possa surgir antes, durante e até depois do parto.

Cuidados redobrados

São vários os fatores que contribuem para uma gravidez de risco, desde a idade materna, a doenças anteriores à gravidez ou problemas que surgem no decorrer da gestação. Nem todas as complicações podem ser prevenidas, mas parte dos riscos pode ser minimizada com algumas alterações no estilo de vida, como adotar uma alimentação equilibrada, praticar exercício físico e deixar de fumar. Estes são os cuidados básicos a ter antes de engravidar, quer saiba ou não que a sua gravidez pode ser de risco.

Fique a conhecer as principais situações que podem comportar algum risco para a mãe e/ou para o bebé e o que pode ser feito para contornar ou minimizar as complicações.

Cuidados redobrados

Idade materna

A idade considerada ideal para engravidar é entre os 20 e os 30 anos. Antes disso, o aparelho reprodutor feminino não está totalmente desenvolvido e depois dos 30 há uma diminuição na fertilidade e um risco mais elevado de surgirem várias complicações. “O risco relacionado com a idade aumenta gradualmente, de forma continua, com o aumento da idade materna”, confirma Cristina Vilhena, obstetra no Hospital Garcia de Orta.

A partir dos 35 anos, há um conjunto de riscos que, embora também ocorram em grávidas mais jovens, passam a ser mais frequentes. O maior problema da gravidez tardia é a dificuldade em engravidar, já que a fertilidade feminina sofre um declínio acentuado depois dos 35. Além disso, há um risco acrescido de anomalias cromossomáticas e malformações congénitas. “As anomalias cromossómicas devem-se a erros que ocorrem durante a divisão das células e que sabemos serem mais frequentes em mulheres de idade mais avançada”, explica Cristina Vilhena, sublinhando que “existem exames para avaliação destas anomalias (invasivos e não invasivos), cada um com diferentes taxas de deteção e com diferentes riscos”.

O risco de complicações durante a gestação, problemas com a placenta e parto prematuro também aumentam com a idade. Os cuidados necessários na gravidez depois dos 35 (tal como em qualquer gestação) devem começar ainda antes da conceção: é importante que a mulher faça uma consulta com o ginecologista, onde é feita a avaliação clínica e análises pré-concecionais.

Cuidados redobrados

Peso da mãe

Ter menos de 45 quilos ou mais de 90 pode influenciar negativamente a forma como decorre a gestação e o próprio parto, assim como o desenvolvimento e a saúde do bebé. A melhor forma de analisar se o peso é adequado à altura, é através do cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC = peso (kg) ÷ altura2 (m)). Um IMC menor que 18,5 (baixo peso) ou igual ou superior a 30 (excesso de peso) aumenta o risco de vários problemas, quer para a mãe quer para o bebé.

Os bebés de mulheres com baixo peso podem ter crescimento limitado durante a gravidez e nascer também com baixo peso. Estes bebés têm um risco aumentado de sofrer atrasos no desenvolvimento e de vir a ter doenças cardiovasculares e diabetes na idade adulta. Por outro lado, o excesso de peso ou obesidade da mãe no início da gravidez aumentam o risco de hipertensão, diabetes gestacional, pré-eclampsia e parto por cesariana. Assim, é importante alcançar um peso equilibrado antes da gravidez.

Cuidados redobrados

Hipertensão

É um problema que pode comprometer seriamente a saúde e a vida da mãe e do bebé e é uma “das patologias mais frequentes na gravidez”, alerta Cristina Vilhena. “Temos essencialmente dois tipos de hipertensão: a crónica ou prévia à gravidez e a gestacional ou induzida pela gravidez. Ambas podem complicar e conduzir a situações de maior gravidade, como a pré-eclâmpsia ou síndrome HELLP.”

A pré-eclâmpsia é o aumento da pressão arterial acompanhada da eliminação de proteína pela urina. Normalmente, esta complicação começa depois da 20ª semana. Quando não tratada adequadamente, pode culminar em eclâmpsia, a forma mais grave das doenças hipertensivas na gravidez. Esta caracteriza-se pela pressão arterial muito elevada acompanhada de outros sintomas graves, como convulsões. Nesta fase, a vida da mãe e do bebé entra em risco.

O tratamento para a hipertensão deve ser definido pelo médico. É fundamental vigiar a tensão durante toda a gravidez e pode ser necessário fazer ecografias mais frequentes para verificar o estado e o desenvolvimento do bebé. “A vigilância clinica é realizada em função da gravidade, duração da doença (no caso da hipertensão crónica) e do controlo tensional durante a gestação”, refere a obstetra, explicando que “as consultas médicas são mais frequentes de forma a monitorizar a tensão arterial e ajustar a terapêutica quando necessário”.

Cuidados redobrados

Diabetes

“Uma grávida com diabetes prévia exige mais cuidados, principalmente se se tratar de uma doença com muitos anos de evolução”, explica Cristina Vilhena. Nestes casos, podem existir lesões em órgãos como “o coração, o rim ou o olho”. No entanto, existem várias formas de prevenção e a futura mãe tem um papel decisivo nesta fase. Para ter um bebé saudável, é importante que ela aprenda a controlar a doença. É aconselhável começar um controlo rigoroso alguns meses antes de engravidar. Assim, o médico pode despistar a existência de complicações, como a retinopatia (olhos) e nefropatia (rins), que, de outra forma, terão que ser controladas durante a gestação. “Em geral, e na sua maioria, são doentes que são devidamente acompanhadas em consulta hospitalar de Endocrinologia e que realizam um acompanhamento pré, peri e pós-concecional. Isto é de extrema importância porque é facto conhecido que o mau controlo metabólico no período peri-concecional se associa a um risco aumentado de malformações congénitas”, sublinha a obstetra, explicando que “os riscos para mãe e para o bebé são minimizados mediante adoção de um estilo de vida saudável, com prática de exercício físico regular, alimentação saudável e acima de tudo um bom controlo metabólico”.

Cuidados redobrados

A diabetes gestacional, ao contrário da diabetes pré-existente, é um problema que surge durante a gravidez e que, geralmente se normaliza depois do parto. A grávida fica com excesso de açúcar no sangue, que pode atravessar a placenta e chegar ao bebé. Se não for controlada, os bebés podem ser muito grandes, o que dificulta o parto e aumenta a probabilidade de cesariana. O bebé também fica mais propenso a ter icterícia e hipoglicemia após o parto. Em muitos destes casos “é possível obter um bom controlo metabólico com a instituição de uma dieta adequada”, mas por vezes “é necessária a instituição de terapêutica farmacológica com insulina para controlo dos valores de glicémia”. A vigilância destas grávidas “deve ser realizada num centro de referência e individualizada de acordo com a gravidade da doença, do controlo metabólico, do aparecimento de eventuais complicações”.

Cuidados redobrados

Asma

A necessidade de oxigénio aumenta significativamente nos dois primeiros trimestres de gravidez e é natural que a grávida sinta alguma falta de fôlego. Por isso, o acompanhamento médico da grávida asmática é essencial. São vários os fatores que podem agravar a asma nesta altura: alterações hormonais, aumento do volume uterino, a ansiedade e o risco aumentado de infeções respiratórias, sobretudo pneumonia. A asma não controlada na gravidez comporta riscos para a mãe (pré-eclampsia, hemorragia uterina e prematuridade), mas também para o bebé, que pode nascer com baixo peso e imaturidade. É importante que as grávidas não suspendam o tratamento prescrito pelo médico, pois podem ocorrer complicações indesejáveis.

Cuidados redobrados

Doenças cardíacas

A gravidez pode ser uma situação de alto risco numa mulher portadora de doença cardíaca, por isso é fundamental discutir com o cardiologista todas as eventuais complicações que daí podem surgir. Na gravidez, é normal o ritmo cardíaco aumentar até 20 por cento e o volume de sangue aumentar 40 a 50 por cento. Nos primeiros dois trimestres, a tensão arterial baixa, normalizando no último. Se a mulher já tem problemas cardíacos, é possível que eles se agravem durante a gravidez, já que o corpo vai, progressivamente, preparar-se para o trabalho de parto, altura em que é exigido maior esforço do coração. Por outro lado, a gravidez e o puerpério estão associados a mudanças cardiocirculatórias importantes, que podem agravar a situação clínica das mulheres com doença cardíaca.

Nas grávidas com doenças cardíacas, o risco de mortalidade materna pode chegar a 50 por cento e, por isso, exigem cuidados especiais desde antes da conceção. A cardiopatia é a causa de morte indireta mais frequente na gravidez, ou seja, a causa de morte por doença prévia à gestação.

Cuidados redobrados

História de aborto

O risco de aborto ronda os 20 por cento depois de um primeiro, 30 por cento depois de dois abortos consecutivos e de 40 por cento depois de três, mas estes são situações raras. A investigação detalhada do casal deve ser feita depois de três perdas fetais. “Infelizmente em menos de metade dos casos é possível detetar uma possível causa”, refere Cristina Vilhena. Entre as causas mais frequentes destacam-se “anomalias cromossómicas dos progenitores, malformações uterinas ou outras deformidades da cavidade uterina, causas imunológicas e causas endócrinas”. A identificação e o tratamento adequado (quando possível) da causa dos abortos de repetição pode resolver o problema e permitir uma gravidez de termo bem-sucedida.

Cuidados redobrados

A multiplicar

A gravidez de gémeos tem características próprias e implica um seguimento mais cuidadoso. Dificilmente atinge as 40 semanas de gestação e muitos dos partos são feitos por cesariana. “A gravidez múltipla apresenta por um lado particularidades e complicações específicas e por outro o risco aumentado de outras complicações que também ocorrem em gestações unifetais (nomeadamente diabetes ou hipertensão), mas que são mais frequentes nestas gestações”, explica Cristina Vilhena. Assim, as consultas e exames devem ser mais frequentes. No que diz respeito aos fetos, as complicações relacionam-se, sobretudo, com o número de placentas: gémeos idênticos e com uma única placenta são mais vulneráveis do que os que têm placentas independentes.

Cuidados redobrados

Fonte:

Revista Pais&filhos, nº 296, setembro 2015

gestação,bebé,parto prematuro,diabetes gestacional,mãe,cesariana,parto,exames,placenta,doenças,obesidade,engravidar,bebés,consultas,peso,altura,coração,40 semanas,glicémia,pré-eclampsia,ritmo cardíaco,saúde do bebé,alimentação equilibrada,alimentação saudável,gravidez de risco,ansiedade,tensão,cuidados básicos,mulheres,gravidez de termo,bebé saudável,gravidezes,vigilância médica,monitorização,idade materna,estilo de vida,praticar exercício físico,fumar,aparelho reprodutor feminino,fertilidade feminina,anomalias cromossomáticas,malformações congénitas,ginecologista,análises pré-concecionais,gémeos,gravidez múltipla,fetos,Índice de Massa Corporal,IMC,doenças cardiovasculares,diabetes,excesso de peso,hipertensão,síndrome HELLP,pressão arterial,urina,20ª semana,eclâmpsia,convulsões,vigilância clinica,hipertensão crónica,controlo tensional,rim,olho,Endocrinologia,prática de exercício físico regular,controlo metabólico,excesso de açúcar no sangue,icterícia,hipoglicemia,dieta adequada,oxigénio,grávida asmática,alterações hormonais,aumento do volume uterino,infeções respiratórias,pneumonia,asma,hemorragia uterina,prematuridade),imaturidade,doenças cardíacas,cardiologista,cardiopatia,aborto,anomalias cromossómicas,malformações uterinas,deformidades da cavidade uterina,imunológicas,endócrinas,