O teste deu positivo. Aquela risca não engana! Tem a confirmação que está grávida e nem sabe o que pensar. O turbilhão de emoções começa. “A aceitação da gravidez é um dos aspetos psicológicos fundamentais do primeiro trimestre da gravidez. É comum a grávida e o casal sentirem-se ambivalentes, confusos e receosos com a gravidez, mesmo quando é desejada e planeada. Nesta fase, surgem geralmente sentimentos contraditórios e o casal pode ser sobressaltado por inúmeras preocupações, dúvidas e receios. Estarei mesmo grávida?, Será mesmo o melhor momento para ter um filho?, Seremos capazes de ser bons pais?... estes medos e ansiedades são naturais e universais, e desempenham a importante função de preparar o casal para a parentalidade”, resume a psicóloga clínica Cláudia Madeira Pereira.

Fases de Ouro: O Primeiro Trimestre

À espera do sim oficial

Após a confirmação, nada melhor do que marcar consulta com o seu obstetra. Idealmente, já teria feito com ele uma consulta pré-concecional, mas muitas vezes isso não acontece. E, por vezes, até precisa de escolher agora um novo médico. “Procure alguém de quem tenha referências. Terá de ser alguém em quem confie plenamente, a quem poderá colocar as suas dúvidas, mesmo as que considera íntimas ou idiotas; e procure que seja alguém disponível, com quem poderá entrar em contato em caso de urgência”, aconselha a ginecologista e obstetra Marcela Forjaz, no seu livro “O Grande Livro da Grávida”. Até à data da consulta, parece ter que esperar uma eternidade. É um compasso de espera algo ingrato, pois não sente o bebé, não vê a barriga a crescer e não há nada que lhe garanta que está tudo a correr bem.

“Habitualmente, as grávidas já anteriormente minhas pacientes vão à consulta pela primeira vez às seis semanas desde o primeiro dia da última menstruação. Nessa altura, costumamos confirmar por ecografia que a gravidez está ‘in útero’, é única, isto é, não são gémeos e se o forem que tipo de gémeos são, medimos a placa embrionária e verificamos os batimentos cardíacos, visíveis a partir desta altura por sonda vaginal”, descreve a ginecologista e obstetra Maria Augusta Rebordão. As grávidas passam, geralmente, a consulta ansiosas “até confirmarem que tudo está adequado ao momento da gravidez”. Aí, a tensão diminui e Maria Augusta Rebordão partilha: “Enternece-me ver as lágrimas dos pais ao ouvir ou ver os batimentos cardíacos do bebé”. O coração bate desde o vigésimo primeiro dia após a conceção, mas às seis semanas não tem ainda a forma definitiva. A maior parte dos órgãos está no seu estádio inicial e o bebé pesa cerca de 0,4 gramas.

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Mudar ou melhorar

A grávida sai da primeira consulta com uma série de desafios. Dizer não ao tabaco e ao álcool é prioritário. Depois, é imprescindível rever a dieta alimentar. Uma regra essencial é fazer várias refeições. Ao fim do dia, não terá ingerido uma maior quantidade de alimentos do que o habitual, mas terá feito um maior número de pequenas refeições. Saudável será o adjetivo que deverá guiar as suas escolhas. Maria Augusta Rebordão deixa algumas sugestões: “Devem tentar incluir sopa ao almoço e jantar, se possível alternar carne e peixe e escolher muitos legumes. Evitar doces, sumos, carnes e peixes crus e carnes fumadas (podem comer fiambre desde que não seja fumado, podem comer enchidos desde que cozinhados). Em casa, saladas bem lavadas e, quem gosta, pode comer caracóis, mas evitar os bivalves”. Fazer algum exercício físico moderado costuma também ser um dos conselhos para tornar os seus dias mais saudáveis. Fazer uma caminhada de 45 minutos, três vezes por semana, é uma boa opção, que lhe irá trazer vários benefícios, entre eles a redução do stresse.

Caso ainda não tenha começado, deverá iniciar a toma de ácido fólico, suplemento muito importante para a diminuição de malformações fetais do tubo neural. A suplementação com iodo vai ganhando cada vez mais adeptos e a própria Direção Geral de Saúde recomenda “um suplemento diário de iodo sob a forma de iodeto de potássio (150 a 200 ug/dia), durante toda a gravidez e enquanto durar o aleitamento materno exclusivo e a substituição do sal comum por sal iodado”. Cada vez mais, há a ideia que esta é a ‘Fase de Ouro’, isto é, a fase em que devemos investir porque podemos fazer alguma coisa. Os suplementos, por exemplo, podem fazer toda a diferença em evitar certas doenças e o rastreio da restrição de crescimento intrauterino e pré-eclâmpsia precoce assume um papel muito importante”, defende Maria Augusta Rebordão.

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Pequenas maleitas

No entanto, por vezes, os planos de fazer uma alimentação saudável e permanecer ágil e em boa forma tornam-se difíceis de concretizar por algumas pequenas maleitas. Por volta das seis semanas, podem surgir os tão famosos enjoos, acompanhados ou não de vómitos, e uma sonolência e cansaço, que lhe retiram a iniciativa. “Se a esta sonolência natural juntarmos o agravamento causado pelos fármacos para os vómitos, em determinados momentos do dia ficar acordada e produtiva revela-se mesmo uma missão impossível”, descreve Marcela Forjaz. Maria Augusta Rebordão identifica outros mal estares habituais, nesta fase da gravidez: “Aumento da sensibilidade mamária; vontade mais frequente em urinar; inicialmente, na ‘luta’ do útero entre o que lhe pertence e o que está a mais, umas dores tipo menstruação para baralhar; e, quase no final deste trimestre, com as hormonas a fazerem com que o intestino mexa devagar, a grávida chega ao fim do dia com uma barriga enorme… E ficarmos sensíveis, choronas, mas felizes. É estranho e lindo ao mesmo tempo!”

A psicóloga Cláudia Madeira Pereira chama a atenção para o fato de ser muito comum esta ambivalência, caracterizada por sentimentos contraditórios. “A grávida pode ter momentos de aceitação, alegria e felicidades e outros de medo, angústia e rejeição. É comum surgirem dúvidas, medos e ansiedades. A grávida pode duvidar da sua capacidade para exercer a maternidade, ter medo que alguma coisa não esteja bem com a sua gravidez, ter medo de abortar e demonstrar preocupações e dúvidas relacionadas com a sua capacidade de lidar com todas as mudanças e transformações futuras que a gravidez irá comportar”. Durante esta fase, o apoio e a qualidade de relação com o companheiro são muito importantes, nomeadamente para o bem-estar emocional da grávida e para uma vivência psicológica saudável da gestação. “É fundamental o diálogo no seio do casal, a partilha de sentimentos, dúvidas, medos e ansiedades, o apoio mútuo, a compreensão do companheiro em relação às oscilações de humor da grávida, a sua disponibilidade para escutar as preocupações e inquietações da companheira, a prestação da sua ajuda e do seu apoio emocional à grávida e a sua presença e companhia nos exames e nas consultas. Tudo isto irá contribuir para uma vivência psicológica mais saudável da gravidez”, aconselha.

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Aproveita o momento

Após as primeiras análises, só no final do primeiro trimestre costuma ser pedida uma nova bateria, acompanhada pelo rastreio bioquímico. São momentos importantes, que ajudam a grávida a ganhar confiança de que tudo está a correr de acordo com o esperado. Entretanto, dentro da sua barriga, mesmo não sentido, passam-se transformações maravilhosas. Até às 12 semanas, o sistema circulatório do bebé está em pleno funcionamento, o coração bombeia o sangue, o sistema digestivo já está completamente formado e funcional. A pele é translúcida, mas os dedos das mãos e dos pés já não estão ligados e as unhas começam a desenvolver-se. Todos os ossos estão no seu lugar e vão ficando cada vez mais resistentes. Os principais órgãos, precisando agora de amadurecer. O cérebro, ainda em desenvolvimento, já envia mensagens que passam entre a medula espinal e os músculos. Os olhos já se deslocaram dos lados da cabeça para a parte frontal e as pálpebras estão fechadas e coladas. Percebe agora porque está com tanto sono?

Maria Augusta Rebordão finaliza com um conselho sensato: “Goze o momento, não vai voltar atrás. Escreva um diário. Aproveite para reestabelecer metas na sua vida e na sua relação! Mas não esqueça nunca: a Natureza é sabia e, pelo menos até às 12 semanas, proteja-se emocionalmente e aprenda a esperar pela boa nova: está tudo bem! A primeira ecografia “oficial” costuma ser feita entre as 11 e as 13 semanas, revelando-se um marco, que sinaliza o final deste primeiro trimestre. A habitual confirmação que está tudo a correr bem é um novo fôlego de alegria para o casal. E, agora sim. É hora de contar ao mundo: “Estou grávida!”

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Fonte:

Ana Sofia Rodrigues

Pais & Filhos, número 300, janeiro 2016

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