Largamente reconhecida com uma das intervenções de saúde de maior sucesso economicamente eficiente, a imunização – processo pelo qual uma pessoa fica protegida contra doenças – previne entre dois e três milhões de mortes anuais e protege as crianças não só contra doenças contra as quais há vacinas há bastantes anos, como a difteria, o tétano, poliomielite e sarampo, mas também contra as doenças como a pneumonia e a diarreia por rotavírus, dois dos maiores responsáveis pela morte de crianças antes dos 5 anos. São dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) que não podem deixar ninguém indiferente, testemunho de um longo percurso percorrido e do muito que ainda há por fazer, nomeadamente no acesso de toda a população às vacinas, uma das principais razões por detrás da Semana Mundial da Imunização. Apesar de todos os esforços neste sentido,  uma em cada cinco crianças continua no entanto sem acesso a este cuidado: em 2013, cerca de 21,8 milhões de bebés não foram vacinados, segundo os números apontados pela OMS. Fornecimento inadequado de vacinas, falta de acesso aos serviços de saúde, escassez de informação precisa sobre imunização e insuficiente apoio político e financeiro são alguns dos fatores responsáveis por uma situação que urge combater em nome de uma melhor saúde pública global!

Graças a todo o trabalho de investigação que tem vindo a ser desenvolvido nesta área, adolescentes e adultos têm também já disponíveis vacinas contra doenças como a gripe e a meningite, e contra vírus que podem estar na génese de alguns cancros (o papilomavírus humano que provoca o cancro do colo do útero e o vírus da hepatite B, que, na sua infeção crónica, pode evoluir para carcinoma do fígado.

Um (enorme) salto para a humanidade

Existentes há mais de dois séculos – primeira foi criada por Edward Jenner, em 1796, contra a varíola -, as vacinas visam provocar uma resposta imunitária protetora contra determinados agentes infeciosos e respetivas doenças e podem ser administradas por injeção, por via oral ou por aerossol.

De valor inestimável para a saúde pública – basta pensar em doenças que já foram erradicadas, como a varíola -, a vacinação é contudo opcional entre nós e apenas obrigatória numa minoria de países da União Europeia.

“O Programa Nacional de Vacinação Português, inaugurado em 1965, foi responsável pela eliminação progressiva de certas doenças em Portugal, como a poliomielite e difteria nos anos anos 90, e no futuro, prevê-se o sarampo e rubéola. Está previsto, graças ao plano de vacinação, a eliminação quase completa em Portugal das meningites e de outras doenças graves, a Haemphilus influenzae b e a doença meningocócica C.

Quando vacinamos, protegemos essa pessoa contra doenças com taxas elevadas de morbilidade e mortalidade, mas ao mesmo tempo, vacinando um número elevado de pessoas, reduzimos o impacto da doença e criamos a tal imunidade de grupo. As vacinas têm um duplo benefício!”, explica Margarida Lobo Antunes, médica pediatra do Hospital Lusíadas.

Vacinar porquê?

Um dos principais marcos não só da história da saúde pública, mas também da própria história da humanidade, a redução e, nalguns casos, a erradicação de doenças prova o quão importante é vacinar as crianças e também os adultos, quando necessário. “ A vacinação é importante para o indivíduo, mas também para a sociedade”, diz Margarida Lobo Antunes, explicando que “uma criança não vacinada que frequenta uma escola com outra criança imunocromprometida, pode colocar esta criança em risco. Uma criança não vacinada está em risco não só de contrair a doença como de a transmitir a outra criança mais vulnerável e isso não é justo”.

“Vacinar em Portugal é uma opção e as vacinas são apenas obrigatórias numa minoria dos países da União Europeia”, revela a mesma especialista. As vantagens de seguir o Plano Nacional de Vacinação são, no entanto, óbvias. Antes de mais, há que pensar que, apesar de não as vermos ou não ouvirmos falar delas, são inúmeras as doenças graves que se evitam através de uma simples vacina, como o sarampo, que ainda persistem noutros países e que facilmente se podem apanhar com uma viagem, por exemplo, espalhando-se com facilidade pelas pessoas que não tiverem sido vacinadas, em muitos casos com consequências graves.

Convém não esquecer igualmente que as vacinas atualmente são seguras e eficazes, antes de poderem ser dadas às crianças, todas as vacinas são submetidas a inúmeros testes. Pode, no entanto, haver “alguns efeitos adversos das vacinas, geralmente de menor importância. Os mais frequentes são febre e dor no local da injeção”, diz Margarida Lobo Antunes, mas nada comparado com as potenciais consequências de qualquer uma das doenças que estas vacinas evitam.

Pontualmente, algumas vacinas podem ser desaconselhadas, caso, por exemplo, de pessoas alérgicas a alguns dos compostos da vacina ou com sistemas imunitários debilitados, fruto de alguma doença ou de tratamento como a quimioterapia.

Além da proteção global assegurada pela vacinação – basta pensar que uma criança vacinada, cumprindo as regras básicas de higiene, pode brincar ou conviver com um recém nascido ou outra criança ou pessoa imunocomprometida sem receio de lhe propangar doenças infetocontagiosas -, convém não esquecer que a vacinação em dia significa menos dias de doença e, consequentemente, menos dias de absentismo na escola e no emprego, por exemplo. E menos custos, a médio e longo prazo, com a saúde.

Mais importante que tudo e aquilo que devemos reter é que “as vacinas salvam vidas, protegendo contra doenças com elevada taxa de mortalidade e morbilidade. Se perguntarmos à maioria dos adultos abaixo dos 40 anos 'lembra-se de ter tido poliomielite? E difteria?, a resposta será 'claro que não!'. Porque foram vacinados!”, frisa Margarida Lobo Antunes.

Vacinas: Contra as Doenças Lutar, Lutar

Vacinar ou não vacinar?

Vacinar, claro! A resposta não deveria deixar margens para dúvidas,  mas “muitos adultos que foram vacinados e assim devidamente protegidos (contra doenças como a poliomielite ou a difteria) resolveram agora não vacinar os seus filhos”, explica Margarida Lobo Antunes, adiantando: “Qual é o direito deles de não oferecer essa proteção a crianças que não têm idade para escolher? Muitos pais acreditam que certas doenças não existem e que são coisas do passado, portanto não vale a pena vacinar as crianças. As vacinas protegem outras pessoas à nossa volta. Se a opção de não vacinar afetasse apenas essa criança e a sua família, seria indiferente, mas infelizmente não é assim”.

Despertar consciências

A Semana Mundial da Imunização este ano pretende “assinalar um esforço nacional, regional e global renovado para aumentar a consciência e procura de imunização por parte das comunidades e melhorar os serviços de administração de vacinação”, refere a OMS.

A campanha terá assim como foco a redução do fosso da imunização e o alcance da equidade nos níveis de imunização descritos no Plano de Ação de Vacinação Global. Aprovado por 194 Estados – Membros da Assembleia Mundial de Saúde, em maio de 2012, tem como principais objetivos “Fortalecer a imunização rotineira para cumprir os objetivos de cobertura de vacinação; acelerar o controlo das doenças evitáveis com a erradicação da poliomielite como primeiro marco; Introduzir vacinas novas e melhoradas; Estimular a investigação e desenvolvimento para as próximas gerações de vacinas e tecnologias”. A meta é prevenir milhões de mortes até 2020 através do acesso universal a vacinas para pessoas em todas as comunidades.

Devemos tomar a vacina contra a gripe?

A Direção Geral de Saúde recomenda a vacina da gripe às “pessoas que têm maior risco de sofrer complicações depois da gripe: pessoas com 65 e mais anos de idade, principalmente se residirem em instituições; pessoas com mais de 6 meses de idade que sofram de doenças crónicas dos pulmões, dos rins ou do fígado; diabetes em tratamento (comprimidos ou insulina); outras doenças que diminuam a resistência às infeções”.

“No entanto  a Sociedade Portuguesa de Pediatria, Secção de Infeciologia, recomenda a vacinação para determinados grupos de risco, nomeadamente crianças com doenças crónicas, cardíacas, renais e respiratórias. Não existe até à data uma recomendação em Portugal, para a vacinação universal das crianças com a vacina da gripe”, explica Margarida Noronha.

Fonte:

Helena Estevens

revista Saúde Viva Mais

número 2, abril 2015

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