Ser pai é um desafio e um projeto para uma vida inteira! Porque os filhos estão sempre a crescer e a mudar! E os pais também crescem e mudam a reboque dos filhos, tal como muda a relação entre ambos! Por isso, de tempos a tempos, é bom parar para questionar que tipo de pai estou a ser, e para descobrir por onde seguir.

Garantimos que este investimento vale a pena porque o papel do pai é realmente fundamental! Durante demasiado tempo o papel do pai foi desconsiderado (e os filhos é que perdiam com isso!). Felizmente, hoje em dia, os pais são chamados a serem pais por inteiro e é-lhes reconhecida a máxima importância no cuidado e na interação com os filhos.

De facto, a investigação em psicologia tem demonstrado que o pai tem um papel especial enquanto companheiro privilegiado da brincadeira, da aventura, o que apela à imaginação e desafia a novas conquistas! Mas, mais que isso, os estudos mostram que o envolvimento e presença paterna é determinante no desenvolvimento de competências dos filhos e que o pai é essencial e insubstituível no desenvolvimento das crianças e adolescentes. Por isso, precisam-se de pais verdadeiramente envolvidos nas várias dimensões das vidas dos filhos: pais que brincam, pais que estudam, pais que riem, pais que ralham, pais que perguntam, pais que ouvem, pais que protegem, pais que ajudam, pais que abraçam, pais que encorajam, pais que seguram, pais que orientam…

Ser um bom pai é, acima de tudo, um jogo de equilíbrio.

Ser um bom pai é, acima de tudo, um jogo de equilíbrio… por isso deixamos aqui 12 dicas para orientar o seu check-up!

1. Aspire a ser cada vez melhor pai… mas aceite que nunca vai ser um pai perfeito!

Ninguém nasce ensinado a ser pai e nem tudo é absolutamente espontâneo como muitas vezes nos fazem crer. Um bom pai vai também crescendo e desenvolvendo-se enquanto tal: à medida que vai conhecendo melhor o seu filho e que sintoniza e interpreta os seus ‘sinais’; à medida que vai refletindo sobre aquilo que faz, sobre o que não faz, e porquê; à medida que passa tempo com os filhos e os vai descobrindo, e se vai descobrindo neles. Querer ser cada vez melhor e investir tempo e esforço na parentalidade é importante… mas também o é aceitar que pontualmente se vai falhar e ficar aquém das suas expectativas. Não existem pais perfeitos, e este idealismo inibe muitas vezes a ação e encerra os pais num negativismo que não ajuda os filhos a crescer!

2. Interesse-se pela vida do seu filho!

Se nos perguntarem o que é mais importante na nossa vida, decerto os filhos farão parte da resposta! Mas é engraçado ver que, não raras vezes, esta nossa prioridade emocional não se traduz no nosso comportamento (muitas vezes é o trabalho que ganha a prioridade comportamental…)! Desligue-se de vez em quando do telemóvel e afins, e sintonize verdadeiramente com o seu filho! Esteja a cem por centro com ele. Interesse-se, faça perguntas, tente perceber o que se passa com os amigos, e na escola, que alegrias e aborrecimentos teve…

3. Jogue, rebole na relva, brinque ao faz de conta, ria alto e em conjunto!

É fundamental divertir-se conjuntamente com o seu filho, partilhar momentos de cumplicidade em que um estranho pode não compreender porque é que se estão a rir, mas vocês, juntos, sabem exatamente o porquê! Estes momentos fortalecem o vínculo que vos une e alimentam memórias felizes de infância.

4. Dê-lhe tempo para fazer por si!

Crianças e adolescentes precisam de oportunidades para ensaiar a sua autonomia! Dê-lhe tempo para comer sozinho, tomar banho e vestir-se sozinho, ou argumentar antes de lhe dizer o porque sim ou porque não! Sim, sabemos que isso implica gastar mais algum tempo. Afinal, naturalmente, o ritmo dos adultos é muito mais rápido que o ritmo das crianças. No entanto, esse nosso precioso tempo converte-se em importantes ganhos para os mais pequenos, que vão construindo o seu sentido de competência e vão-se tornando, de facto, mais autónomos!

5. Perceba que a escola é mais do que imagina!

Claro que a escola é importante! É na escola que o seu filho passa mais tempo! É lá que o seu filho desenvolve grande parte das suas competências, sejam elas cognitivas, emocionais ou sociais. É na escola que o seu filho aprende mais; é na escola que o seu filho interage com mais pessoas, de diferentes tipos e feitios; é na escola que o seu filho experimenta um sem fim de emoções e problemas: desde sentir-se popular ou rejeitado, competente ou incompetente, aborrecido ou entusiasmado! Por tudo isto, evite focar-se só nos TPC, no estudo ou nas notas que obteve. É igualmente importante que se interesse e converse sobre outras dimensões da escola e do desenvolvimento do seu filho. Afinal, não queremos filhos que tiram excelentes notas, mas depois, por exemplo, não têm amigos ou não sabem lidar com a ansiedade, certo?

6. Não perca tempo a fazer comparações! Cada filho é único!

É inevitável fazer comparações. É uma necessidade psicológica que nos permite compreender se está tudo no “bom caminho”… Assim, vamos comparando uns filhos com os outros, com os sobrinhos, com os filhos dos amigos ou com os filhos dos colegas de trabalho… Acontece, porém, que estas comparações são, na maior parte das vezes, ilegítimas, pois as realidades de cada família e as características de cada criança são muito diferentes. Os nossos filhos não são a nossa cópia nem o nosso prolongamento… Procure aceitar cada filho, mesmo quando há características que o desiludem. Procure estar mais atento aos aspetos positivos do seu filho.

7. Escolha as suas lutas!

As crianças e os adolescentes precisam de limites e de orientação! Mas escolha as suas batalhas! Escolha as regras e os valores importantes e mantenha-se fiel a estes em todas as circunstâncias! E permita-se relaxar noutros aspetos que não considera fundamentais. Se assim não for, vai passar todo o tempo em tensão com o seu filho.

8. Elogie muito! O seu filho é fantástico mas não é o melhor do mundo!

Os pais são os melhores espelhos para os filhos, no sentido em que lhes vão dando feedback das suas características e competências, permitindo assim que construam a sua auto-imagem. Por isso, o reforço dos esforços e realizações das crianças é fundamental. Deve ser um espelho sempre presente e fiel das conquistas que vão fazendo, contribuindo para o fortalecimento da sua autoes­tima. Não podemos é ser como os espelhos das feiras populares que, ora diminuem, ora ampliam… ambos são perigosos, porque ou lhes devolvem uma imagem de si mais frágil que os faz sen­tir menos competentes face os desafios, ou lhes devolvem uma imagem ampliada, que depois não se traduz na real competência e conduz a frustração…

9. Comunique bem!

A comunicação é o motor da relação. Mas tem muitas armadilhas! Tenha cuidado com elas!

  • Evite perguntas fechadas: “Correu bem a escola?” não será uma questão que estimule muito a conversa! Provavelmente só terá como resposta: “Bem…”. Procure antes perguntar o que de mais giro aprendeu durante o dia ou quais as brincadeiras que fez no recreio.
  • Evite forçar que o seu filho fale quando está cansado ou sem vontade. Nós também não gostamos, pois não?
  • Coloque-se no lugar do seu filho: evite sarcasmos, humilhações, múltiplas orientações em simultâneo, fazer promessas que não consegue cumprir…
  • Experimente, por exemplo, à hora do jantar, propor que todos os elementos da família digam o que correu pior e o que correu melhor no dia… Pode ser uma ótima forma de partilha!

10. Deixe-o escolher!

Às vezes atuamos como se tivéssemos a expectativa de que, em adultos, de forma mágica, os nossos filhos se tornem autónomos e capazes de fazer escolhas importantes na sua vida (o curso a escolher, a pessoa certa para partilhar a vida…) sem que lhes tenhamos dado a possibilidade de ensaiarem o caminho desta autonomia! Como diz a sabedoria popular, é de pequenino que se torce o pepino, por isso, deixe-o fazer escolhas à sua medida e dentro de opções razoáveis: com que brinquedo vai brincar, o que quer vestir, que amigos quer convidar para a festa... É na ponde­ração das diferentes hipóteses e no comprometimento com uma das opções destas pequenas situações, que se começa a exercitar a capacidade de tomada de decisão, fundamental, mais tarde, às grandes escolhas da sua vida.

11. Que valores está a transmitir ao seu filho?

Andamos sempre numa roda-viva! Temos pouco tempo, e por vezes pouca energia. Mas é urgente parar para pensar que valores estamos a sedimentar nos nossos filhos. O que é que é realmente importante? Em que medida colocamos os nossos filhos a pensar nas consequências dos seus comportamentos nos outros? Em que medida damos exemplos na nossa vida de respeito pelos outros, de verdade, de paz? Daqui a 10 ou 20 anos, estes exemplos, estes valores, estas conversas farão a diferença nos nossos filhos, na forma como lidam com os seus problemas e desafios, como to­mam decisões…

12. Criatividade precisa-se!

Ser pai exige muita criatividade: criatividade para fazer desdobrar o tempo, criatividade para interromper uma birra, criatividade para brincar, criatividade para resolver problemas! E vale muito a pena! Tente “sair da caixa” e ver outras perspetivas... E quando não estiver a conseguir fazê-lo, fale com outros pais, coscuvilhe blogues e sites, consulte agendas culturais para miúdos, lembre­-se do que funcionava consigo quando era criança!... Por vezes, cortar com a rotina, reagir de forma imprevisível, ou fazer algo divertido pode ser muito reforçador da relação com o seu filho.

Fonte:

Lurdes Veríssimo e Mariana Negrão (psicólogas e docentes da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Cató­lica Portuguesa e coordenadoras do APRENDER a EDUCAR - Programa para Pais)

Revista Pais&Filhos

número 290, março 2015

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