Começa por ser uma das primeiras palavras que a criança consegue dizer. Muitas vezes ainda antes dos tradicionais “mamã” ou “papá” e ainda antes dos simpáticos “olá” ou “adeus”, a criança começa por afinar a sua capacidade de contrariar os outros, negando-se a fazer o que lhe pedem. Não é por acaso que o “não” é dito pela criança antes do “sim”. Não é apenas como forma de defesa, para a impedir de fazer tudo o que lhe pedem, mas porque é mais fácil de soletrar. E também por ser uma palavra tantas vezes ouvida pelos seus pais, quando a criança “estica a corda”. E quem sai aos seus...

O que acontece depois do “não” varia muito de criança para criança. Se há algumas que rapidamente são controladas ou distraídas e acabam por fazer aquilo que lhes é pedido, outras há que são mais persistentes (teimosas?) e não desistem de levar a sua à frente.

Não Obedece! O Que Podem os Pais Fazer

Muitos pais insistem em tentar alterar o temperamento de uma criança quando percebem que alguns “traços” são mais “vincados” do que gostariam. Mas é um trabalho inglório e votado ao fracasso. O temperamento nasce com a criança, faz parte dela, não pode ser alterado. O que os pais podem fazer é “moldar” esse temperamento de forma a transformar esses traços de “desvantagens” em “vantagens”. O comportamento resulta, em parte, do temperamento mas também da forma como os pais lidam com ele.

É o modo como nós lidamos com a criança que determina, em grande medida, se um determinado traço se torna, ou não, problemático. Uma criança persistente será sempre persistente. Dependerá muito dos pais se esse traço é de teimosia ou de persistência. Esta moldagem envolve principalmente o exemplo dado pelos pais, mas também o reforço das atitudes corretas e a retificação das atitudes incorretas. Ameaçar e não cumprir vai exacerbar ainda mais esse traço. Pelo contrário, ser claro, direto e firme, vai levar a uma maior aceitação, por parte da criança, do que pretendemos.

As crianças mais difíceis testam mais, resistem mais, protestam mais, dramatizam mais, esticam mais a corda. E conseguem provocar nos pais reações e emoções mais fortes. Mas não fazem parte de uma conspiração maléfica para tornar a nossa vida miserável. A maioria são crianças perfeitamente normais que precisam apenas da nossa ajuda para se tornarem melhores.

Não Obedece! O Que Podem os Pais Fazer

Atitude positiva

Antes de dar soluções milagrosas (que não existem, de facto) é importante voltar um pouco atrás e interiorizar que a disciplina deve ser exercida principalmente pela positiva. Ou seja, pelo exemplo, pelo ambiente em torno da criança, pelo estimulo dos comportamentos adequados que vai fazendo ao longo dos dias, que a levam a espontaneamente, e sem hesitações a fazer aquilo que lhe pedem. Desta forma, não só a criança obedece como (e principalmente) gosta de obedecer, e fica feliz quando isso acontece.

A melhor forma de estimular uma criança a fazer o que pedimos é dar-lhe atenção quando se está a portar bem. Muitos pais acham que é óbvio que a criança sabe como se deve comportar. Lamento desiludi-los mas isso não é verdade. A criança precisa que lhe digam. Sim, que lhe digas “Estás a portar-te bem!”. “Estou muito contente contigo”, “És uma filha muito bem comportada” e aí por diante. Os pais devem aproveitar as oportunidades que se colocam à sua frente para estimular e elogiar o bom comportamento. Dessa forma a criança vai sentir-se bem e vai querer repetir. E terá mais tendência a agradar aos pais quando lhe é colocada essa possibilidade.

Na disciplina pela positiva, o reforço (como o elogio ou o encorajamento) é a arma principal. No início, quando pretendemos estabelecer um novo comportamento, é importante que esse reforço seja contínuo, ou seja, que surja cada vez que o comportamento adequado é realizado. Mais tarde, para consolidar a aprendizagem, o reforço deve deixar de ser feito sempre que a criança se comporta de determinada forma mas apenas após um determinado número de vezes. Nesta fase a criança não está constantemente à espera do reforço mas sabe que ele aparecerá se as suas atitudes forem consistentes no tempo.

Numa última fase, devemos dar um reforço positivo apenas de forma ocasional, o que impede que, com o tempo, esse comportamento deixe de existir. É também nesta fase que a nossa atitude deve mudar do “Estou tão orgulhoso de ti”, transferindo para a criança todos os louros pelo seu bom comportamento. À medida que a criança cresce deixa de necessitar do nosso reforço e consegue elogiar-se a si mesma. Nesta fase a nossa missão está concluída.

Não Obedece! O Que Podem os Pais Fazer

Outras vias

Mas por vezes ir pela positiva não chega. Seja porque não estamos a fazer bem o nosso trabalho anterior, seja porque a criança é especialmente resistente à mudança e às tentativas dos pais.

De facto, é por vezes chegada uma altura em que, perante um determinado comportamento, é necessário seguir em frente e sem rodeio. Perante um “não” determinado e resoluto, muitas vezes é necessário terminar ali a teimosia e levar a criança a fazer o que lhe é pedido. Existem várias opções ao nosso dispor para conseguirmos que os nossos filhos terminem um mau comportamento de imediato e percebam que, para nós, aquela atitude não é tolerada.

Na mesma lógica do que fazemos para estimular o bom comportamento, muitas vezes tudo o que temos de fazer é ignorar aquele “não” que teima em persistir. Quando isso é possível, é sem dúvida a arma mais poderosa que os pais têm ao seu dispor. A criança que é ignorada nas suas pretensões fica desamparada. Percebe que não está a conseguir aquilo que pretende e que não está a conquistar a atenção dos pais. Não dar atenção a uma criança que repete um “não” é não dar importância à situação, é desvalorizar as circunstâncias, é passar para a criança a mensagem que não está a conseguir atrair a atenção de ninguém. Muitas, perante esta reação simplesmente desistem da teimosia e seguem em frente.

Não Obedece! O Que Podem os Pais Fazer

Perceber que é ineficaz

Por vezes isso não é possível e é suposto que a criança faça mesmo aquilo que lhe é pedido. Nesses casos não dá para ignorar a situação. É chegada a altura de agir. Se está nas mãos dos pais resolver a situação devem fazê-lo. Por exemplo se o “não” foi a resposta a “tens de ir para o quarto” ou “está na hora de ir para a cama” tudo o que os pais devem fazer é pegar na criança e colocá-la no quarto ou na cama. Sem grandes explicações ou ensinamentos, sem grandes conselhos ou sermões. Nessa altura o mais importante é a criança perceber que o “não” foi completamente ineficaz.

Outras situações são mãos complexas. Por exemplo um “não” a comer a sopa ou a pedir desculpa a um irmão, não pode ser ignorado mas também não pode ser realizado pelos pais. Nestas situações entramos no mundo dos castigos que devem ser pontuais, pequenos e possíveis. Pretendem passar a mensagem que aquele comportamento não é aceitável e não deve ser repetido. Seja colocar de castigo, dar uma reprimenda ou retirar algum privilégio, são várias as alternativas e os pais devem escolher aquela que sabem ser mais eficaz.

Não Obedece! O Que Podem os Pais Fazer

Fonte:

Paulo Oom, pediatra

Pais & Filhos, número 301, fevereiro 2016

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