Ninguém gosta que os seus filhos tenham de tomar medicamentos. O ideal seria a criança passar pela infância e adolescência sem nunca ter de recorrer a qualquer medicação. Mas a realidade é outra e todas, sem exceção, acabam por ter de tomar alguma terapêutica ao longo da sua vida. As menos afortunadas podem mesmo ter de conviver diariamente com alguns medicamentos, como é o caso das crianças alérgicas ou com asma.

Se é verdade que todos os medicamentos à venda nas farmácias são eficazes e seguros, também o é que todos podem ter efeitos secundários, principalmente se não forem utilizados corretamente, na situação adequada, na dose certa e pelo tempo adequado.

Alguns medicamentos, como os antibióticos podem mesmo alterar de forma importante o equilíbrio que existe no organismo entre as bactérias protetoras e as agressivas e deixar a criança vulnerável para contrair mais infeções ou infeções mais graves se o seu uso for indevido.

Por todas estas razões é importante que os pais, não sendo médicos, tenham algumas noções básicas sobre os medicamentos mais comuns, principalmente os que são de venda livre nas farmácias, para que os utilizem corretamente.

Medicamentos Guia Prático (I)

Para febres ou dores

Analgésicos e antipiréticos

Estes são os reis dos medicamentos para crianças. O paracetamol é mesmo o medicamento mais utilizado em todo o mundo em pediatria. São bastante seguros e eficazes, mas têm indicações específicas e podem acarretar alguns perigos.

Paracetamol

É o medicamento mais utilizado em todo o mundo em crianças. O paracetamol é utilizado em situações de febre ou dores ligeiras a moderadas tais como síndromes gripais, reações dolorosas a vacinas, dores de cabeça, dores de dentes, de ouvidos, traumáticas, musculares ou articulares. Perante estas situações os pais devem sentir-se livres para atuar e, se a situação persistir, contactar o pediatra. No entanto, não deve ser dado a bebés antes dos três meses de vida sem antes consultar o médico, pois nos bebés é muito importante investigar de imediato a causa de qualquer febre.

A dose recomendada em cada toma deverá ser de 10 mg por cada quilo de peso da criança. Assim, por exemplo, uma criança com 10 quilos deverá tomar (10 mg x 10 kg =) 100 mg de cada vez. Existe algum intervalo de confiança pelo que a quantidade de medicação não tem de ser excessivamente rigorosa. De uma forma geral podem ser utilizadas as doses indicadas na tabela. As doses podem ser tomadas cada seis a oito horas (três a quatro vezes por dia) consoante a gravidade da situação.

Medicamentos Guia Prático (I)

Quando evitar?

Este medicamento apenas não deve ser dado se a criança manifestou anteriormente qualquer alegria ao paracetamol, o que é uma situação muito rara. Pode ser tomado com bebidas ou alimentos. Após a abertura do frasco de xarope, o medicamento pode ser utilizado por um período de 12 meses, desde que conservado num local seco e fresco (temperatura inferior a 25ºC). O maior perigo associado ao paracetamol é a utilização de doses excessivas, que podem provocar uma intoxicação. Esta situação é muito grave pois pode provocar lesões no fígado que podem ser fatais. Felizmente as doses necessárias para provocar uma intoxicação são muito mais elevadas do que as necessárias para o tratamento da febre ou dores. Mas em situações que uma criança pequena apanha um frasco de xarope aberto, podem acontecer desastres…

Doses de paracetamol

Idade Peso Dose a utilizar em cada toma
Dos 3 aos 6 meses Até 7 kg ½ a 1 supositório de 125 mg ou 1,25 a 2,5 ml de xarope
Dos 7 meses até 1 ano Até 10 kg 1 supositório de 125 mg ou 2,5 ml de xarope
Entre 2 e 5 anos Até 20 kg 1 supositório de 250 mg ou 5 ml de xarope
Entre 6 e 12 anos Até 40 kg 1 supositório de 500 mg ou 10 ml de xarope
A partir dos 12 anos Mais de 40 kg 1 supositório de 1000 mg ou 2 comprimidos de 500 mg
Xarope de 40 mg/ml

 

Ibuprofeno

O ibuprofeno pode ser utilizado nas situações em que possam existir febre ou dores ligeiras a moderadas. Em relação ao paracetamol é geralmente mais potente e os dois podem ser utilizados em conjunto, ou de forma alternada, nas situações mais graves. É muito frequente o médico aconselhar a utilização alternada destes dois medicamentos, de forma a que a criança possa tomar um deles cada quatro horas. Não deve ser dado a crianças com menos de seis meses sem antes consultar o médico. A dose recomendada em cada dia deverá ser de 20 mg por cada quilo de peso da criança. Assim, por exemplo, uma criança de 12 kg poderá tomar (20 mg x 12 kg =) 240 mg num dia. Existe algum intervalo de confiança pelo que a quantidade de medicação não tem de ser excessivamente rigorosa. De uma forma geral podem ser utilizadas as doses indicadas na tabela.

As doses podem ser tomadas cada seis a oito horas (três a quatro vezes por dia). Este medicamento não deve ser dado se a criança manifestou anteriormente alergia ao ibuprofeno, o que é uma situação rara. Deve ser evitado em crianças com varicela pois aumenta o risco de surgirem algumas complicações. Deve também ser evitado, se possível, em crianças com asma, rinite, urticária ou tendência alérgica pois aumenta o risco de desencadear ou agravar uma crise.

O ibuprofeno deve ser tomado de preferência depois das refeições. Após a abertura do frasco de xarope, o medicamento pode ser utilizado por um período de 12 meses, desde que conservado num local seco e fresco (temperatura inferior a 25ºC).

Doses de Ibuprofeno

Idade Peso Dose a utilizar em cada toma
Dos 3 aos 6 meses Até 7 kg 1,25 a 2,5 ml de xarope
Dos 7 meses até 1 ano Até 10 kg 2,5 ml de xarope ou 1 supositório de 75 mg
Entre 2 e 5 anos Até 20 kg 5 ml de xarope
Entre 6 e 12 anos Até 40 kg 10 ml de xarope ou 1 comprimido de 200 mg ou 1 supositório 150 mg
A partir dos 12 anos Mais de 40 kg 1 comprimido de 400 mg
Xarope de 200 mg/ml

Para as infeções

Antibióticos

Existem à venda mais de cem antibióticos diferentes, cada um com as suas indicações específicas. De salientar que muitos medicamentos à venda na farmácia, apesar de possuírem nomes comerciais diferentes, têm na sua constituição o mesmo antibiótico.

Os mais frequentes são: Amoxicilina, Amoxicilina +Clavulânico, Azitromicina, Cefradina, Claritromicina, Cefixima, Cotrimoxazol, Cefaclor, Cefadroxil, Cefatrizina, Cefprozil, Cefuproxima, Eritomicina e Flucloxacilina.

Os antibióticos permitem combater doenças que, sem o seu uso, poderiam ter consequências graves. Os antibióticos atuam sobre as bactérias que provocam as infeções e ajudam o organismo das crianças a eliminá-las, mas não têm qualquer ação sobre os causadores de outras infeções, como os vírus. Desde que sejam seguidas as indicações do pediatra, podem ser dados em qualquer idade.

Existem muitos antibióticos diferentes, cada um com as suas indicações específicas. Não são todos iguais e se um determinado antibiótico é eficaz numa situação, tal não significa que também seja numa infeção diferente. Deve por isso ser sempre o médico a prescrever um antibiótico de forma a assegurar que é tomado de forma correta e durante o tempo adequado. A maioria dos antibióticos deve ser administrada de 8 em 8 horas. Alguns antibióticos podem ser dados de 12 em 12 horas ou mesmo apenas uma vez por dia. Se uma fica atrasada por qualquer motivo, deve ser tomado logo que for possível, mesmo que tenham passado algumas horas. Se, por esquecimento, uma toma não é feita de todo, a toma seguinte deve ser dada na hora indicada, na dose normal, e o antibiótico continuar a ser dado regularmente a partir daí.

Medicamentos Guia Prático (I)

Quando evitar?

Um antibiótico deve ser evitado sempre que haja suspeita de a criança ter tido uma alergia a esse antibiótico. Apesar de poderem existir alguns efeitos indesejáveis, estes não são frequentes.

Em caso de suspeita de alergia, pelo aparecimento de manchas na pele, vómitos ou diarreia, o médico deve ser consultado. O efeito secundário mais grave é as bactérias tornarem-se resistentes, o que pode levar ao aparecimento de infeções difíceis de controlar. Os pais não devem, em situação alguma, decidir que a criança vai tomar um determinado antibiótico, só porque o mesmo foi eficaz numa situação anterior. Os antibióticos devem ser mantidos fora do alcance das crianças.

Medicamentos Guia Prático (I)

Antifúngicos

Existem muitos medicamentos antifúngicos diferentes, em forma de pomada ou spray, cada um com as suas especificações específicas.

Os mais frequentes são: Bifonazol, Cetoconazol, Ciclopirox, Clotrimazol, Econazol, Miconazol e Tioconazol. Os antifúngicos permitem combater doenças provocadas por fungos, mais frequentes na pele, unhas e couro cabeludo, pelo que são habitualmente utilizados na forma de creme ou pomada, Desde que sejam seguidas as indicações do pediatra, podem ser dados em qualquer idade.

Os antifúngicos são receitados durante o tempo adequado para controlar a infeção. Muitas vezes o tratamento tem de ser prolongado durante quatro a seis semanas. Ocasionalmente, principalmente quando há envolvimento do couro cabeludo ou das unhas, pode ser necessário adicionar ao tratamento tópico um antifúngico em xarope.

A maioria dos cremes antifúngicos devem ser colocados duas a três vezes por dia nas zonas afetadas. Sempre que haja suspeita de a criança ter tido uma reação alérgica a determinado creme este deve ser evitado.

Nas infeções dos pés, unhas ou outros locais da pele é obrigatória a exclusão de atividade ou de locais onde o perigo de contágio é maior, nomeadamente piscinas e balneários.

Medicamentos Guia Prático (I)

Antivirais

O medicamento antiviral mais utilizado nas crianças é o Aciclovir, que pode ser vendido sob diferentes nomes comerciais. Nas crianças, os antivirais (em xarope) são utilizados essencialmente nas situações de varicela, nomeadamente em bebés com menos de um ano, crianças com mais de 12 anos, com doenças da pele ou respiratórias crónicas ou que de alguma forma tenham as suas defesas diminuídas. Alguns pediatras também aconselham o seu uso quando a varicela ocorre num segundo membro da família, já que nesta situação a gravidade de lesões é habitualmente maior. Estes antivirais podem igualmente ser administrados em alguns casos de crianças com herpes labial, o que não tem grande efeito no evoluir das lesões da pele, mas diminui o período durante o qual a criança é contagiosa.

Desde que sejam seguidas as indicações do pediatra, pode ser dado em qualquer idade. As doses médias são, para uma criança de 10 kg- 2,5 ml por dose, e para uma criança de 20 kg- 5 ml por dose.

Nas situações de varicela, quando se justifica, o xarope deve ser tomado cada seis horas (quatro vezes por dia) e durante cinco dias.

Sempre que haja suspeita de ter existido uma alergia ao medicamento Aciclovir este deve ser evitado e a criança tomar um medicamento alternativo. Não está comprovada qualquer utilidade na utilização de antivirais diretamente sobre a pele, nas situações de herpes labial.

Fonte:

Paulo Oom

Pais & Filhos, número 304, maio 2016

saúde,médico,dores de cabeça,dores,alimentação,vacinas,bactérias,medicamentos,crianças,bebés,filhos,infeções,peso,adolescência,paracetamol,farmácia,alergia,Infância,alimentos,asma,medicação,antibióticos,antifúngicos,rinite,bebidas,ibuprofeno,pediatria,febres,analgésicos,antipiréticos,síndromes gripais,dores de dentes,xarope,intoxicação,prescrições,supositório,antivirais,