São simples, gratuitas e podem ser feitas praticamente em qualquer local e altura, com um mínimo de preparação. Mas podem aumentar a sensibilidade, reduzir a dor e até reforçar o sistema imunitário. Parece que estamos a falar de uma qualquer medicação milagrosa, mas não… são apenas massagens! “O segredo é a partilha. Relaxe e deixe o seu próprio e natural contacto terapêutico despontar – apenas cinco minutos por dia podem fazer toda a diferença.Será agradavelmente surpreendido pelo alcance dos benefícios físicos e emocionais que esta interação partilhada pode trazer à sua família”, defende a terapeuta Mary Atkinson, no seu livro “Massagem para Crianças”.

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Se as vantagens das massagens para bebés já estão amplamente divulgadas, os benefícios da continuidade dessa prática em idades mais avançadas são ainda muito pouco focados. “A ideia das massagens para o bebé é introduzi-las até aos 12 meses e não parar aos 12 meses!”, reconhece a psicóloga e instrutora de massagem Sofia Alves da Silva. E continua: “Se os pais que fizeram massagens ao bebé mantiverem essa rotina com os seus filhos à medida que vão crescendo, vão ser as próprias crianças a querer continuar”.

A prática pode ser introduzida em qualquer idade e as crianças com pouca experiência de contacto regular serão tao beneficiadas como as que foram massajadas desde que nasceram. Sofia Alves da Silva promove, na Clínica Dasein, em Lisboa, um Programa de Massagem Pais e Filhos, especialmente direcionado para crianças a partir dos quatro anos. “São cerca de cinco sessões em grupo e, depois pais e filhos são desafiados a estabelecer essa rotina em casa. A resposta é muito positiva pois encontram um momento em que estão completamente focados na relação. Naquele bocadinho da massagem não há televisão nem telemóveis”. A terapeuta destaca algumas vantagens: “Os pais relatam que as crianças quando estão a ser massajadas tendem a abrir-se muito mais e a conversar sobre o seu dia e as suas preocupações e notam também que os filhos ficam mais tranquilos, adormecem mais facilmente e dormem melhor”.

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O poder do toque

“Se desenharmos um quadrado na mão com um centímetro de lado, encontramos, em média, cinco milhões de células, dois recetores de calor, 12 recetores de frio, 25 recetores de pressão, 200 recetores de dor, 170 glândulas sudoríferas, 5000 recetores propriocetivos, quatro metros de fibras nervosas, um metro de vasos sanguíneos, cinco fios de pelo… Com estes dados podemos perceber a importância de toque! Nas crianças, este processo é fundamental para o seu crescimento, bem como para o desenvolvimento de relações saudáveis ao longo da vida”, refere Joana Viterbo, fisioterapeuta e instrutora de massagem. Defensora do chamado toque nutritivo, relembra os inúmeros estudos produzidos pelo Touch Research Institute, em Miami, nomeadamente em bebés prematuros: “Os bebés sujeitos a terapia por massagens aumentaram de peso mais 47 por cento do que os não massajados, tinham sono mais profundo, os seus níveis de hormonas de stresse diminuíram e tiveram alta quatro dias mais cedo”.

Sessões nas escolas

Foi uma profunda crença na importância deste contacto nas crianças que levou as pedagogas Mia Elmsater e Sylvie Hetu a criarem o Programa Massagens nas Escolas a nível mundial (www.massageinschools.com). Em 2007, chegou a Portugal e atualmente já existem 110 instrutores certificados. Sílvia Conde, formadora de instrutores, relata com entusiasmo a reação das crianças portuguesas: “Adoram! Mostram disponibilidade para fazerem a massagem e questionam quando será a próxima sessão. Quando estão a fazer a rotina conseguem um bom nível de concentração e respeito para com o outro, permitindo que o ruído existente frequentemente numa sala de aula desapareça durante aquele tempo. É caso para dizer – só visto – mas é magnifico ver!”.

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Em sessões de cerca de 20/30 minutos, as crianças pedem permissão ao colega para fazerem a massagem e no final agradecem. A massagem é feita aos pares, por cima da roupa, na cabeça, costas, braços e mãos. Aprendem uma rotina muito simples de 15 movimentos, que muitos levam para casa e repetem com os pais. Os benefícios têm sido unânimes nos vários países onde o programa é experimentado.

Aumento da concentração e da motivação, melhoria da capacidade de relação com os outros, aumento do respeito por si e pelos outros, redução da agressividade/bullying dentro e fora da sala de aula, maior capacidade de trabalhar individualmente e em grupo, aumento da consciência interior e da autoestima, capacidade de distinguir entre o mau toque e o toque positivo e maior respeito pelo material e instalações escolares”, resume Sílvia Conde.

Desde 2010, o Programa tem sido implementado de forma continuada nos Agrupamentos de Escola de Faro, em parceria com a União de Freguesias de Faro, tendo envolvido no passado ano cerca de 750 alunos por mês.

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Prática familiar

“Num final de dia, quando todos estão cansados, a prática da massagem poderá ser uma rotina de boas-noites verdadeiramente especial. As crianças, na sua maioria, gostam de reproduzir em casa aquilo que aprendem na escola. Quando gostam de algo, são uns mensageiros muito convictos”, realça Sílvia Conde.

Mas o mais certo é que o seu filho ainda não tenha experimentado o programa Massagem nas Escolas, pelo que a iniciativa pode ser sua. A terapeuta Mary Atkinson lança o desafio: “Não precisa de ser um especialista para efetuar uma massagem carinhosa; o seu filho sentirá prazer com o seu contacto porque é o seu”.

Aliás, para as mães da Ásia, da Europa Oriental e de África, oferecer aos seus bebés e crianças um contacto reconfortante sempre foi uma reação maternal instintiva, uma forma de se ligarem e de comunicarem amor, cuidado e respeito.

Crescer no século XXI não é fácil. Os pais podem encontrar nas massagens uma ferramenta para contrabalançar o stresse negativo, oferecendo um relaxamento positivo e um contacto carinhoso. Massagens nos ombros, braços, costas, cabeça e rosto, as áreas onde estamos sujeitos a maior pressão, podem trazer benefícios calmantes quase imediatos às crianças. No seu livro “Massagem para Crianças”, Mary Atkinson deixa muitos conselhos para os pais. Reunimos de seguida, os mais importantes.

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A saber

As crianças mais novas tendem a dispersar-se mais rapidamente, por isso tende não ser demasiado ambicioso. Aponte para dez ou 15 minutos, mas considere que cinco minutos poderão ser uma experiência de tranquilidade e reforço da ligação entre ambos.

Acenda uma vela, baixe a intensidade da luz ou coloque uma música relaxante. As massagens funcionam melhor quando fazem parte do ritual diário na hora de deitar. Nunca deverá forçar o seu filho, pergunte-lhe sempre se quer fazer a massagem e se algum dia ele disser que não, respeite essa vontade. Se não se sentir bem ou se estiver apressado não ofereça uma massagem ao seu filho; ambos vão sentir-se ansiosos.

O conforto do seu filho é importante, mas o seu também. Não esteja torcido ou dobrado a fazer as massagens. Tente manter as costas direitas, mas descontraídas. Lembre-se: em geral, os movimentos lentos são mais relaxantes, enquanto os mais rápidos são revigorantes. Evite massagens sobre a coluna vertebral ou sobre quaisquer saliências ósseas. E… aproveite!

Como resume a psicóloga e instrutora Sofia Alves da Silva, “as massagens são mais uma ferramenta de relação entre pais e filhos, que pode ser adaptada ao longo do crescimento. O toque alimenta, não só fisiologicamente, como aos níveis emocional e cognitivo. Quando as crianças deixam de ser bebés, o toque vai perdendo um pouco e estas iniciativas ganham especial importância."

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Necessidades especiais

As massagens proporcionam benefícios para todas as crianças com desenvolvimento típico, mas também para crianças com necessidades especiais.

Mariana Silva, psicomotricista na Cooperativa Horas de Sonho, destaca as principais: “Quando realizada pelos pais, permitem uma proximidade pais/filhos, que por vezes é difícil em algumas perturbações; melhoram a postura, a atividade reflexa e a adaptação a estímulos sensoriais; ajudam a melhorar os padrões de respiração ineficientes através do efeito do toque no sistema nervoso autónomo, permitindo a expansão torácica; melhoram a circulação sanguínea e linfática; aumentam a consciência das partes do corpo; reduzem a hipersensibilidade ao tato; aumentam a qualidade/quantidade de vocalizações; proporcionam uma relaxação geral para o cuidador e para a criança”. E aprofunda: “Consoante a patologia/perturbação, apresentam benefícios mais específicos. Por exemplo, em crianças com espectro de autismo, as massagens podem ajudar a melhorar o contacto visual”.

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O que dizem as crianças?

Isabel e Carlota experimentaram as Massagens na Escola, no Colégio Rainha D. Leonor em Caldas da Rainha. Aqui fica o seu testemunho.

Gostaram das massagens?

Isabel: Sim, adorei, quer dizer… adorei!

Carlota: Sim, adorei! A primeira vez que experimentei foi muito diferente! Foi espetacular!

Como se sentiam?

I: Depois de fazer as massagens aos meus colegas sentia-me contente por eles terem aproveitado aquele momento. Depois de me fazerem a massagem sentia-me descontraída, relaxada e muito feliz.

C: Depois de fazer as massagens aos meus colegas sentia-me cansada mas feliz aos mesmo tempo, porque sabia que tinha feito os meus amigos sentirem-se melhor e mais relaxados. Depois de eles me fazerem a mim, sentia-me eu relaxada e tranquila. Era mesmo como se estivesse num spa.

No início era estranho?

I: No início era um pouco estranho, estávamos sempre a rir. Mas depois começamos a rir menos e a aproveitar mais a massagem.

C: Mais ou menos… mas depois da primeira massagem foi como se estivesse nas nuvens…

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Fonte:

Ana Sofia Rodrigues

Pais & Filhos, número 298, novembro 2015

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