O primeiro ano de vida do bebé é marcado por um conjunto variado de novas aquisições. E um dos momentos mais marcantes é aquele em que o bebé dá os seus primeiros passos! É muito frequente ouvir-se os pais dizerem, quando relatam este acontecimento, que “foi de repente”, “sem ninguém estar à espera, soltou-se e andou sozinho!”. Mas na verdade, a aquisição e aprendizagem da marcha são etapas de um processo longo, que requer treino por parte do bebé durante o seu primeiro ano de vida, e no qual os pais desempenham um papel muito importante. A capacidade de andar representa um grande salto na independência da criança e é por isso marcada, muitas vezes, por receios e preocupações, por parte dos pais e mesmo por parte da criança. Por isso, compreender e conhecer o desenvolvimento desta competência e algumas estratégias para contornar eventuais preocupações poderá ajudá-lo a si, e também ao seu filho, a ultrapassar esta etapa de forma mais saudável.

O primeiro aspeto que qualquer pai deve ter em mente é que cada bebé tem o seu próprio ritmo de aprendizagem e que as idades de referência para a aquisição das competências de marcha não são rígidas, funcionando apenas como indicativas. Existirão bebés que poderão adquirir uma competência mais cedo ou mais tarde, sem que tal seja motivo de preocupação ou esteja relacionado com um atraso do desenvolvimento.

Aprender a andar requer tempo e o desenvolvimento de várias habilidades motoras, como por exemplo a força muscular, a coordenação e o equilíbrio. É necessário que o bebé adquira estas competências pois só assim conseguirá dar os seus primeiros passos. E o caminho para essa aquisição não é curto! Começa semanas após o nascimento e prolonga-se durante aproximadamente um ano. 

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Após o nascimento…

Muitos estudiosos do desenvolvimento infantil acreditam que, por volta da segunda semana após o nascimento, o aparecimento do reflexo da marcha é um percursor essencial da marcha voluntária que aparecerá meses depois. Esta resposta involuntária, que irá desaparecer por volta do segundo mês, pode ser verificada se segurar a criança na posição vertical deixando os seus pés em contato com uma superfície. Perante este estímulo, o bebé irá realizar movimentos alternados com os membros inferiores semelhantes aos do andar. Até se poderia dizer que estes são, na verdade, “os primeiros passos” do bebé!

3º/4º mês – Já faço exercício físico!

Desde o nascimento, a progressão da maturação cerebral do bebé é sem dúvida um requisito essencial para que possa controlar e coordenar os movimentos. Os primeiros movimentos coordenados são aqueles que lhe permitem controlar a cabeça e o pescoço, que surgem por volta do 3º/4º mês. A partir deste momentos, podemos observar o bebé a fazer movimentos com os membros inferiores semelhantes ao pedalar, a colocar os pés na boca realizando uma espécie de abdominais, rolar e a balançar-se para cima e para baixo nas coxas do pai ou da mãe, quando segurado de pé. Para além disto, observa-se ainda que o bebé controla e coordena gradualmente melhor as suas mãos e gestos no sentido de chegar aos objetos colocados à sua frente. Todos estes “exercícios” que o bebé passa a realizar são imprescindíveis no desenvolvimento da força e controlo muscular e na coordenação, sendo necessários, muitas horas de prática para aperfeiçoar a sua técnica!

6º/7º mês – O treino do equilíbrio

Surge uma nova etapa. O bebé, que detém agora uma maior força muscular ao nível do tronco, já pode sentar-se e à medida que o seu desenvolvimento neuromuscular acontece, deixa de necessitar de apoio e passa a conseguir estar sentado sozinho durante mais tempo. Esta nova aventura vai permitir que o bebé desenvolva a força nos braços e pernas e também o equilíbrio. Isto acontece porque passa a conseguir, por exemplo, levantar-se da posição de deitado para a de sentado, sustentar-se unicamente com as mãos e ponta dos pés e manter-se sentado nas coxas dos adultos, quando estes fazem o “cavalinho”, segurando apenas as mãos!

Até ao 11º mês – Está quase!

Até ao 9º/10ºmes, o bebé começa a rastejar, a gatinhar e a conseguir permanecer de pé apoiado no mobiliário. Pode acontecer que alguns bebés continuem a gatinhar durante vários meses, pois com este tipo de mobilidade já consegue atingir os seus objetivos. Outros, pelo contrário, podem nem passar por esta etapa, colocando-se rapidamente de pé. Tal como na fase anterior, os exercícios de fortalecimento muscular, equilíbrio e coordenação continuam, pois quando os objetos caem no chão é necessário que o bebé se agache para os apanhar. Quando começa a andar apoiando-se nos móveis, a criança está prestes a dar os primeiros passos sozinha. Este apoio adicional permite-lhe aprender a mover as pernas, a manter uma postura corporal direita e a equilibrar-se de pé.

Por volta do 11º mês, o aumento da confiança relativamente ao que o rodeia e às suas competências vai determinar que passe a conseguir manter-se de pé sem apoio, ainda que por breves instantes, e/ou a andar apoiado na mão do adulto. Muitas vezes, apesar de ainda não dominar totalmente a marcha, nesta fase a criança poderá já ter determinação para andar sem se agarrar, podendo por vezes cair. Ainda assim, ele não irá desistir e vai continuar a desenvolver todas as aquisições sensoriais e motoras para ser bem-sucedida. Esta é uma fase que requer a energia de toda a família, pois pode provocar a alteração de alguns hábitos por exemplo, poderá começar a ser difícil para o bebé fazer a troca da fralda deitado, ou permanecer satisfeito quando sentado numa cadeira por longos períodos de tempo, sem sentir vontade de andar ou de acompanhar os irmãos mais velhos. Assim, é melhor estar preparado para algumas birras, especialmente nas situações em que a mobilidade do bebé é restringida.

12º mês – Passos de independência

Não há uma idade certa para a aquisição da marcha. Apesar de grande parte das crianças dar os seus primeiros passos por volta do primeiro ano de vida, esta competência pode surgir entre o 9º e o 18º mês, sem que isso implique qualquer problema de desenvolvimento. Um surgimento mais tardio da marcha pode dever-se a:

  • Uma maturação mais lenta de alguns nervos e músculos necessários à marcha;
  • Uma necessidade de dominar uma corpulência maior, no caso de bebés mais pesados;
  • Ausência de necessidade de alterar o método de locomoção porque, por exemplo, quando o bebé gatinha já consegue ser suficientemente rápido e concretizar os seus objetivos;
  • Irmãos ou crianças mais velhas que ao andarem, correrem e saltarem em torno do bebé dificultam o seu equilíbrio.

Começar a andar sozinha é sem dúvida um dos grandes marcos do desenvolvimento psicomotor de uma criança, constituindo um momento decisivo na sua independência. Agora, a criança deixa de precisar dos adultos e pode ela própria anular a distância que a separa dos objetos que deseja. No entanto, não são só vantagens: quando deixa de ser transportada ao colo dos adultos perde a velocidade de deslocamento que tinha anteriormente; o seu equilíbrio é frequentemente colocado em causa; ocorre uma alteração da sua perceção, parecendo agora que está num “mundo de gigantes”. Esta ambivalência de sentimentos vai ter que ser gerida pela criança, mas os pais poderão ser, sem dúvida, uma ajuda.

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Como pode ajudar o seu filho?

É certo que a marcha resulta de um processo de maturação nervosa, mas não só. Toda a evolução e aprendizagem descrita desde o nascimento até este momento da marcha autónoma encontra-se fortemente associada à dimensão afetiva e relacional. O momento em que a criança começa a andar promove, de facto, um grande número de trocas afetivas entre a criança e os pais, os irmãos, e os outros que fazem parte dos contextos que frequenta. Desta forma, a atitude dos cuidadores mais próximos – como a mãe ou o pai – poderá ser inibidora ou estimulante para a criança. Por exemplo, quando uma criança é levada a passear, os pais podem controlar se a criança anda ao colo, no carrinho, ou encorajá-la a andar.

É normal que durante o processo de aprendizagem desta competência ocorram quedas, e que o medo de que a criança se magoe seja uma preocupação para os pais. No entanto, tenha em mente que as quedas são indispensáveis neste processo de aprendizagem, e que a sua atitude será determinante no comportamento que a criança irá adotar. Uma mãe ou pai mais ansiosos poderão ter tendência a precipitar-se e a agarrar a criança ou pedir-lhe para parar ao mínimo desequilíbrio ou “passo em falso”.

São frequentes as situações em que a queda por si só não desencadeia o choro da criança, mas sim a aproximação agitada dos pais. Outras atitudes características dos pais mais ansiosos são a repetição inexistente de palavras como “cuidado”, “anda devagar”, “para de te mexer”. Estas ansiedades, inquietações ou mesmo rigidez dos pais poderão, por vezes, levar a criança a bloquear as suas realizações. Desta forma, algumas das estratégias que poderá adotar nesta fase de desenvolvimento são:

Encorajar: felicite e encoraje o seu filho. Na fase inicial da marcha ocorrerão muitas quedas, mas se o seu filho se sentir confiante e se sentir reforçado, irá continuar a explorar o seu envolvimento. Poderá colocar-se à frente da criança e segurar-lhe uma ou as duas mãos e ir caminhando com ela, para que esta se sinta confiante.

Não pressionar e respeitar o ritmo da criança: muitos pais poderão sentir alguma pressão social para que o seu filho ande, porque quase todos os coleguinhas da mesma idade já o fazem. Contundo, tenha em consideração que o seu filho poderá ainda não ter desenvolvido todas as competências que sustentam a marcha (e.g. força muscular, equilíbrio) ou ainda não se sentir suficientemente confiante. Desta forma, o melhor é reforça-lo e valorizá-lo pelo que já consegue fazer e lembrar-se que esta competência apresenta uma dispersão considerável da idade em que possa surgir, sem que tal seja considerado problemático.

Tranquilizar: nas quedas evite fica excessivamente nervoso ou ansioso, pois o seu filho irá aperceber-se e provavelmente adotar o mesmo comportamento.

Proteger: proteja as tomadas, as escadas e os cantos do mobiliário onde o bebé se poderá magoar. Quando a criança adquire alguma mobilidade autónoma, rapidamente se pode deslocar para locais que colocam em causa a sua segurança física sem que o adulto se aperceba.

Descalçar: é importante manter os pés da criança o mais livres possível. Andar descalço ajudará a melhorar o equilíbrio e a coordenação do seu filho e trará uma maior aporte de sensações.

Deixar explicar: evite segurar insistentemente os braços do seu filho. Lembre-se que ele precisa de explorar e vivenciar os desequilíbrios da tarefa!

 

Fonte:

Marina Sardeira - Revista Pais&Filhos,  número 289, fevereiro 2015

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